sexta-feira, 7 de maio de 2010

RESENHA: “O que faz o brasil, Brasil?
Roberto DaMatta (Editora Rocco 12ª edição, Rio de Janeiro: 2001)

Inicialmente o autor explica o título da obra, dando, a partir de seus estudos, a definição de cada expressão da palavra Brasil, com B maiúsculo, minúsculo e com todas as letras maiúsculas.
Ele diz que a construção da identidade de um indivíduo se dá juntamente com a construção de sua sociedade, através da prática de seus costumes, hábitos e regularidades, tornando os indivíduos singulares com sua sociedade.
O autor faz uma explanação dos temas que serão apresentados no livro por meio de comparação e caracterização da sociedade brasileira.
Conclui o capítulo com um convite ao leitor para analisar as questões que particulariza a sociedade brasileira e sua contribuição para a formação do indivíduo.
Trata o espaço e o tempo vivido na sociedade brasileira. Espaço como, casa, rua e trabalho, e o tempo na sua utilização em cada um desses espaços.
O espaço da casa é dado como local de valores e de moral, onde temos o status de ser humano e que temos um papel singular. Lá somos classificados pela idade ou sexo o que nos caracteriza como “alguém”. Assim a casa é um local demarcado por afetividade. O tempo nesse espaço é dado pelos acontecimentos, ou seja, os fatos ocorridos durante a vida.
Já na rua somos intitulados como massa, povo. Esse espaço nos remete a “luta”, e o tempo é marcado pelo relógio. É local perigoso, mas pode ser espaço para lazer, o que faz era compensador do espaço da casa. As pessoas e os acontecimentos são caracterizados de forma mais pejorativa.
Em relação ao trabalho, faz comparação entre os anglo-saxões sobre sua concepção. Relata a relação de patrão e empregado que pode ir do “econômico ao moral”.
Conclui que os espaços da rua, da casa e do trabalho se completam, mas suas mediações são complexas. “Formam espaços básicos através dos quais circulam a nossa sociabilidade”.
Desenvolve esse tema a partir do enunciado de Antonil. Aponta em que consistem as teorias racistas européias e norte-americanas, que escalonavam as raças colocando o branco no topo. Mas para eles o maior problema seria a mistura dessas raças.
Destaca o ponto de vista de Gobineal, que as raças podem ser divididas em três critérios: “o intelecto – faz referência ao branco – as propensões animais – relacionadas ao índio – e as manifestações morais – ligada ao negro e sua religiosidade.
Dá a definição de mulato que é “aquele incapaz de reproduzir-se, pois já é resultado de um cruzamento entre tipos genéticos altamente diferentes”.
Defende que “o Brasil não é um país dual”, pois temos um conjunto de categorias intermediárias. Não temos uma classificação de raças como na sociedade norte-americana, onde lá os negros e mestiços são considerados inferiores.
Chega à conclusão que o Brasil pode ter uma democracia racial, desde que a justiça assegure o direito de ser igual, caso contrário continuaremos a usar nossa mulataria para esclarecer nosso processo social.
Para ele um dos códigos que representa a sociedade brasileira é a comida. Faz uma distinção entre comida e alimento, onde classifica a comida como aquilo que ingerimos por prazer, e o alimento como aquilo que ingerimos para a sobrevivência. A comida pode realizar uma mediação entre a barriga e a cabeça, através dos códigos: visual, odores e digestivo. Relaciona também como a sociedade vê o cru e o cozido, isto é, compara com o processo de transformação social. Destaca como a comida torna-se um ato de comunhão com os outros, podendo celebrar as relações sociais. Explica como o ato de comer se associa à sexualidade.
O autor equaciona simbolicamente a mulher com a comida, fazendo a diferenciação da mulher da “rua” e a mulher de casa, no sentido de como elas são concebidas como comida.
Sua conclusão é que temos uma “obsessão pelo código culinário relacional e intermediário, ou seja, que á marcado pela ligação”.
A festa e a rotina fazem parte da vida social construindo “expressões ou reflexões de uma mesma totalidade”.
O carnaval além de ser tradicional, importante e esperado, é o momento em que a rotina fica extraordinária, possibilitando a distribuição do prazer sensual para todos e onde todos são iguais. Define-se então como inversão do mundo. E para a festa ser completa temos a fantasia, que nos permite ser o que quisermos e a vida não possibilitou. Temos então “a possibilidade do disfarce e da liberação”. Podemos nesta festa então revelar nossos desejos e aspirações.
Ele conclui que o carnaval é a festa da inversão, de mudarmos de posição social, de vivermos a alegria em abundância, viver a liberdade e a igualdade.
Sustenta que as festas de ordem recriam e resgatam o tempo, o espaço e as relações sociais, no qual o contrário do carnaval as diferenças sociais são mantidas.
As festas da ordem – cívicas e religiosas – são marcadas pela contenção corporal e verbal. A ordem é sempre marcada pela regularidade, remetendo a ideia de sacrifício e disciplina. Nesses ritos há sempre algo de concreto que separa o mais e o menos favorecido.
Os ritos podem ser também as mudanças de fase na vida, “onde os grupos se comprazem na busca de um sentido profundo para suas vidas”.
Em sua conclusão afirma que as festas da ordem para serem realizadas necessitam de um centro, onde as pessoas estão distribuídas ao longo dele, tudo acontece com um determinado equilíbrio, um oscilar entre forma e conteúdo.
O autor mostra como não são trabalhadas as leis, onde deveria ser aplicada, quem as corrompe, e por que. Ele faz um paralelo entre Estados Unidos, França e Inglaterra, no que diz respeito à aplicação das leis, considerando assim todos que as fazem corretamente como cidadãos.
Destaca que na nossa sociedade o “não pode” não é aceito com facilidade, obtendo-se sempre o “jeito” para resolver uma determinada situação, mas isso só é possível se ambas as partes permitem que aconteça. O “jeito” seria uma “forma pacífica e até mesmo legítima de resolver alguma situação”.
Nesse meio temos o malandro, aquele que pratica o “jeito” com extrema eficiência, “tira partido de certas situações, igualmente usando o argumento da lei ou da norma que vale para todos”. Temos também a figura do despachante que é “o mediador entre lei e uma pessoa, guiando seus clientes pelos estreitos e perigosos meandros das repartições oficiais”.
Conclui que a “malandragem e o jeitinho promovem uma esperança de tudo juntar numa totalidade harmoniosa e concreta”, sendo então a malandragem um modo possível de ser e o “jeito” o método de resolver algo mais facilmente.
Refere-se à religiosidade como espaço do outro mundo, onde os santuários são espaços referenciais, em que rezamos, pedimos, suplicamos, falamos com Deus coletiva ou individualmente. Fazemos isso como forma de entrar em comunhão com o universo e com o todo. “A religião é o modo de ordenar o mundo, marca e ajuda a fixar momentos importantes na vida de todos nós”.
As experiências religiosas complementam-se entre si, nunca são excludentes, o que uma permite a outra proibi.
Ele conclui que a “linguagem religiosa em nosso país é uma linguagem da relação e de ligação, uma forma de comunicação familiar e íntima, direta e pessoal entre homens e deuses, no caso brasileiro”.
A obra não deixa de ser uma contribuição para a literatura brasileira e o estudo de nossa sociedade, mas não me agradaram as comparações que o autor faz com outros países, pois cada sociedade tem seus costumes, hábitos, estilo de vida, enfim, sua particularidade. Contudo não podemos nos colocar em uma posição superior só porque vivemos de forma diferente da do país vizinho. E foi com uma determinada superioridade que ele se posicionou.
É evidente que devemos conhecer outros costumes e hábitos sociais, mas isso não implica dizer que os outros terão que se igualar a nós, nem que isso nos torna melhor ou pior que eles.
Mas a obra traz grande contribuição para um melhor conhecimento de nossa sociedade e para avaliar nosso próprio comportamento dentro dessa sociedade.
Por abordar nossos costumes de uma forma clara, de fácil entendimento e com bastante originalidade a obra pode ser indicada a todo brasileiro que procura contribuir para o crescimento de seu país.
FRANCISCA JOCINEIDE.

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